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Startups cabo-verdianas na Web Summit: por onde andam os participantes das primeiras edições?

Passados cinco anos após a primeira participação do país nesse evento global de tecnologia, o Balai foi saber por onde andam algumas das startups que fizeram parte das edições anteriores.

Desde 2018 que o programa GoGlobal tem movimentado o setor do empreendedorismo em Cabo Verde, mobilizando iniciativas de negócios ligadas à inovação tecnológica e possibilitando a sua participação na Web Summit Lisboa. Entre a comitiva que se desloca do arquipélago para aquela que é considerada “a maior feira de tecnologia do mundo”, destacam-se as startups criadas por jovens empreendedores cabo-verdianos.

Em conversa com o Balai, responsáveis de quatro das startups que participaram das edições anteriores da feira da Web Summit, desde 2021 até agora, e que ainda se encontram operacionais, apontam questões ligadas ao financiamento, o acesso aos dados e a legislação como os principais desafios.

Faxi.cv foi uma das startups que esteve presente na edição de 2021, em Lisboa. O projeto desenvolvido pelo engenheiro de software praiense, Assis Ferreira, de 27 anos, é uma ferramenta de pagamentos eletrónicos em Cabo Verde, criada em setembro de 2020 para “auxiliar as pessoas nos processos de pagamentos online durante a pandemia da covid-19”, como avança o fundador da startup.

O meu principal objetivo em participar da Web Summit foi de conhecer outros desenvolvedores e beber um pouco de seus conhecimentos, sendo que durante a feira pude trocar ideias com um deles que resultou em novas abordagens da Faxi.cv e que aprimorou a experiência do utilizador com nossos serviços”, completa.

Quem também esteve à procura de novas “inspirações” para o negócio foi a startup CVBuy que atua no sector de e-commerce, permitindo a compra e venda online de produtos nacionais e internacionais no mercado nacional. Segundo o empreendedor Amilson Garcia, natural de São Lourenço dos Órgãos e fundador do negócio que marcou presença na feira da 2023, no Rio de Janeiro.

A nossa ida à Web Summit Rio tinha como principal objetivo arranjar parceiros para o nosso negócio, tanto a nível de Web Summit pagamentos como também da logística. O Brasil faz mais sentido para a CVBuy do que a feira de Lisboa, porque o ecossistema de comércio eletrônico brasileiro atrai-nos mais do que o de Portugal”, destaca Amilson Garcia, de 24 anos, que idealizou a empresa desde 2018.

Tanto a Faxi.cv quanto CVBuy são plataformas cujos negócios ainda se mantêm de pé, embora distintas, ambas foram se adaptando ao longo da trajetória, segundo os fundadores dos dois projetos.

Atualmente a CVBuy conta com 11 funcionários, sendo seis internos que trabalham no desenvolvimento da empresa e na expansão do negócio, temos outros cinco profissionais que apelidamos de “CVBuy Gurús” que atuam dentro das lojas parceiras, garantindo que os produtos dessas lojas se encontram devidamente identificados e divulgados na nossa plataforma”, adianta Amilson.

Ainda questionado sobre o processo de entrega, Amilson Garcia afirma que a startup conta com um “motoboy” próprio e com serviços de entregas realizados por profissionais independentes, quando lidam com grande tráfego nos pedidos. O mesmo garante que serviços de entregas também são feitos por parceiros em outras ilhas.

Já no caso do Faxi.cv o cenário é diferente, segundo Assis Ferreira, a startup por ser um negócio 100% online e “mais prático”, não conta com trabalhadores internos, uma vez que a maioria são profissionais independentes que prestam serviços a nível de design e outras assistências à plataforma.

Até agora temos cerca de 4200 utilizadores cadastrados, sendo 500 ativos mensalmente e cerca de 20 mil contos em transações feitas desde o início até agora, isso num total de 12 mil pagamentos. Apesar de estarmos em crescimento contínuo, nós queremos alargar ainda mais tendo em conta o público que queremos atingir”, analisa Assis.

Além destas duas startups, no ano de 2022 outras startups cabo-verdianas também puderam experienciar as oportunidades da feira da Web Summit, em Lisboa, como é o caso da AgriTech, uma startup que atua no ramo da inovação agrícola e do Vale.cv que atua no setor dos serviços e turismo.

Um dos entrevistados, Elton Sousa, formado em tecnologia multimédia e um dos sócios da AgriTech, reconheceu o impacto da Web Summit Lisboa 2022 no negócio, tanto que este ano marcarão presença no evento pela segunda vez, compondo a comitiva da Unitel T+ no âmbito do programa Unitek, com um projeto conjunto virado para a agricultura urbana.

Durante as conexões feitas na Web Summit do ano passado começamos a ver outras possibilidades de explorar o nosso negócio, o que acabou por influenciar na criação deste projeto que surgiu como uma forma de aumentar a rentabilização do nosso negócio e também ter uma diversificação dos serviços que prestamos, sem fugir da nossa área  de atuação que é a agricultura”, conta Elton Sousa  ao explicar que o projeto abrange as famílias e empresas com interesse em ter espaços verdes tanto agrícolas como plantas decorativas na sua parte externa ou interna.

Outra startup que fechou parcerias através da sua participação na feira tecnológica de Lisboa em 2022, foi a Vale.cv, fundada por dois jovens mindelenses, Yanick Évora, formado em marketing, gestão comercial e empreendedorismo e Chris Rocha, formado em gestão de negócios.

Um ponto interessante do evento é que houve também uma oportunidade de networking entre a própria comunidade cabo-verdiana que se deslocou à feira, no nosso caso fechamos uma parceria com a CHUVA que também esteve presente e que brevemente teremos o lançamento de um projeto em conjunto”, adiantaram os dois fundadores da startup que teve o seu lançamento oficial em março deste ano.

Em termos de avanços, estando agora com quase sete meses a atuar no mercado, podemos dizer que a nossa empresa tem ganho uma certa notoriedade e retornos de forma gradual. No nosso site temos feito algumas vendas, principalmente durante as férias de verão em que conseguimos vender os nossos serviços destinados a essa época para quem vem de fora”, acrescentam.

À semelhança de outros empreendedores que decidem investir num negócio em solo cabo-verdiano, as startups que atualmente têm experimentado o gosto das experiências do mercado, não deixaram de fora os desafios que têm passado até agora.

Assis Ferreira do Faxi.cv, destacou alguns empecilhos relacionados a disponibilização dos API ‘s necessários “a tempo e horas”, por parte de outras entidades, que segundo o mesmo, não têm dado abertura para isso, fazendo com que o negócio enfrente bloqueios no seu avanço tecnológico.

Para Elton Santos, a questão do financiamento tem sido um dos grandes desafios que a AgriTech tem enfrentado até agora.

Isto foi algo que já prevíamos antes mesmo de desenhar o nosso negócio. Infelizmente, o nosso país ainda é bastante burocrático quando o assunto é financiamento de projetos, fazendo com que nos atrasemos nos processos. Há um desgaste enorme em correr atrás das pessoas que possuem uma agenda cheia e sem tempo para audiências, mas têm esse poder de decisão em mãos, isso dificulta no andamento dos processos e é algo que precisa ser revisto”, sublinha o mesmo.

Quem partilha do mesmo pensamento são os mentores do Vale.cv, Yanick Évora e Chris Rocha, bem como Amilson Garcia, da CVBuy, que para além da questão do financiamento, apela por uma legislação nacional que permita a compra de produtos nos setores de e-commerce através de pagamentos por prestações, como uma forma de facilitar o poder de compra dos cabo-verdianos, que segundo o mesmo, tem sido cada vez mais limitado nos últimos anos.

Este ano, Cabo Verde participará mais uma vez na feira do Web Summit, em Lisboa com 10 startups nacionais de base tecnológica numa comitiva com cerca de 50 pessoas. A presença no certame ambiciona servir como uma plataforma para estabelecer rede de contactos e parcerias bem como para atrair investidores.

 

Balai

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