Para além das vantagens enumeradas são também esperadas mudanças no ecossistema das comunicações móveis, seja através da criação de novos modelos de parceria entre empresas de tecnologia e operadores, seja pela adoção em massa de dispositivos IoT (Internet of Things). Esta adoção trará como consequência provável uma maior dependência tecnológica da sociedade para o funcionamento dos seus serviços. No relatório de riscos globais do Fórum Económico Mundial de 2022, pode ler-se que apesar de estas novas tecnologias proporcionarem benefícios enormes para a sociedade, podem também expor os utilizadores a formas perniciosas de riscos digitais e de cibersegurança.
A face mais visível do 5G para o utilizador comum irá passar por um acesso à internet com uma velocidade mais rápida e fiável no seu dispositivo móvel com ganhos substantivos nas experiências lúdicas e de teletrabalho, mas será a nível corporativo que as grandes diferenças se vão fazer sentir.
A evolução das telecomunicações mostra que nem sempre a tecnologia mais recente é a que passa por um processo de adoção mais imediato, como assistimos por exemplo com o lançamento das redes 3G. Todas as promessas que esta tecnologia trazia consigo só se materializaram com a implementação da geração seguinte com o 4G. Algumas análises de mercado apontam que o mesmo se poderá passar com a adoção do 5G, onde numa primeira fase os casos de uso e modelos de negócio vão ser analisados e testados, mas a verdadeira adoção deverá materializar-se apenas com a implementação do 6G.
A União Europeia no contexto da sua estratégia digital europeia identificou o seu atraso tecnológico na corrida ao 5G e definiu como estratégico o desenvolvimento em larga escala da tecnologia 6G, através do lançamento do programa «Joint Undertaking on Smart Networks and Services towards 6G (SNS JU)», que aproxima a Indústria e os Estados Membros.
Neste momento o que conseguimos prever com algum grau de confiança é que as novas redes móveis vão a médio e longo prazo ser os alvos mais apetecíveis para os agentes criminosos criarem disrupção nas organizações.
Neste sentido e com o objetivo de apoiar a implementação segura do 5G, entidades como a ENISA (European Union Agency for Cibersecurity), NIST (National Institute of Standards and Technology) e CISA (Cibersecurity & Infrastructure Security Agency), têm divulgado diversa documentação para a proteção do ecossistema 5G. Da leitura realizada, fica patente que uma grande parte dos controlos de segurança da arquitetura de rede devem ser assegurados pelos fabricantes, operadores móveis e operadores de serviços Cloud, mas para algumas das ameaças identificadas (e.g. violação da cadeia de valor, aspetos legais, ataques físicos, entre outras), terão de ser as empresas a desenvolver e aplicar os controlos de segurança necessários.
Em resumo, os principais desafios para as empresas vão passar, numa primeira fase, pela identificação dos casos de uso com o 5G e de que forma estes podem potenciar os modelos de negócio atuais ou futuros. Consequentemente irão ter também a necessidade de desenvolver uma estratégia, modelo de governança, análise de risco e controlos adequados para garantir uma adoção segura do 5G nos seus processos de negócio. Os operadores móveis que apresentarem um pacote de serviços integrados que incluam controlos e processos de segurança numa lógica de security by design nos seus produtos, vão ter uma vantagem competitiva de mercado que poderá influenciar o processo de decisão das empresas na hora de adquirirem as suas redes privadas de 5G.
Março 2022
ECO/ Paulo Rosado, Senior Manager EY Portugal, Cybersecurity, Consulting Services
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