Está em discussão na ONU a elaboração de uma convenção internacional para combater o uso de tecnologias de informação e comunicação para fins criminais. O Brasil é um dos países de língua portuguesa que participam ativamente deste debate e buscam definir estratégias comuns para a governança da internet em geral.
Para abordar esse assunto, a ONU News ouviu o diretor de Tecnologia da Informação do Ministério do Trabalho do Brasil, Heber Maia. Nas margens das sessões que terminaram em finais de agosto, ele comentou a grande relevância da língua portuguesa no ambiente digital.
“Hoje os estudos indicam que é a língua portuguesa é provavelmente a quinta mais utilizada na internet. Hoje são aproximadamente 230 milhões de falantes lusófonos utilizando a internet. É um público muito grande, um público relevante, que está espalhado não somente nos países lusófonos, nos países que compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP, mas nós temos por exemplo na França, são aproximadamente meio milhão de falantes da língua portuguesa. O público que fala a língua portuguesa está espalhado pelo mundo inteiro, a gente conhece muito bem essa realidade, a diáspora dos falantes dos países lusófonos. Cabo Verde é um exemplo muito característico, todo mundo comenta.”
Maia afirmou que é necessário entender como essa população utiliza a internet e criar elementos de proteção desta comunidade.
“As plataformas digitais, as big techs, desenvolveram soluções que conseguem identificar, por exemplo, os discursos de ódio, a misoginia, racismo e consegue combater de forma mais efetiva em língua inglesa, por exemplo. Qual é o tratamento que eles estão dando para os falantes de língua portuguesa? Recentemente uma ex-funcionária do Facebook a Frances Haugen, esteve no Brasil e chamou a atenção para esse ponto. Ela nos alertou para a necessidade de uma ação direta e imediata em relação a criação de proteção para os falantes de língua portuguesa.”
O especialista afirmou que a língua também é um fator decisivo para aproveitar oportunidades oferecidas por novas tecnologias, como inteligência artificial.
“Hoje nós estamos perdendo profissionais, especialistas extremamente competentes, que trabalham com inteligência artificial, mas quando vão desenvolver suas pesquisas, eles precisam trabalhar com conjuntos de dados em língua inglesa. Não temos, por exemplo, conjuntos de dados suficientes para desenvolvimento de determinadas pesquisas de inteligência artificial porque nós não nos articulamos para isso. Estamos cientes e convencidos de que precisamos unificar os países lusófonos para que essas pesquisas em inteligência artificial sejam realizadas na nossa língua.”
Maia disse que esses temas serão tratados primeiro Fórum Lusófono de Governança da Internet acontece no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, dias 18 e 19 de setembro.
Segundo ele, a atividade está alinhada com a convenção internacional proposta pela ONU, pois ambos têm como objetivo comum “trazer maior segurança para a população lusófona que acessa a internet.”
Maia também destacou que a agenda do fórum tem como um dos eixos centrais, o Digital Compact, um conjunto de propostas do secretário-geral da ONU para garantir um futuro digital aberto, livre e seguro para todos.
1º Fórum de Governação da Internet da Comunidade Lusófona tem entre os temas em debate o ecossistema de governação da internet, a língua portuguesa na Internet, o Global Digital Compact e os desafios e oportunidades para o desenvolvimento da Internet nos países lusófonos.
O evento gratuito é realizado pelo NIC.br e CGI.br, em conjunto com o .PT, a LusNIC, INTIC (Instituto Nacional de Tecnologias de Informação de Moçambique), ARME (Agência Reguladora Multisectorial da Economia de Cabo Verde), IILP (Instituto Internacional da Língua Portuguesa) e outras organizações de países lusófonos.
Mundo Lusiada