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Mundo das ComunicaçõesInovar e crescer à boleia do 5G. Quatro setores que vão beneficiar da nova geração móvel

Inovar e crescer à boleia do 5G. Quatro setores que vão beneficiar da nova geração móvel

O leilão do espetro da rede continua a decorrer mais de 50 dias após o início, mas ainda sem fim à vista. Portugal será dos últimos países europeus a usufruir dos benefícios da tecnologia, que para muitas empresas significa mais produtividade e rentabilidade.

Diz a sabedoria popular que “devagar se vai ao longe“, mas não quando a discussão é a nova geração móvel. Em pleno período de crise sanitária, social e económica, acelerar a disponibilização do 5G às empresas reveste-se de particular importância pelas vantagens competitivas que a rede traz a diferentes setores de atividade. Da banca à indústria, passando pela mobilidade ou telecomunicações, as aplicações são muitas e de potencial transformador. Para isso, contudo, é preciso que o leilão do espero chegue ao fim. “Atrasos na disponibilização desta infraestrutura crítica podem implicar consequências do ponto de vista do potencial de desenvolvimento económico, podendo colocar-nos atrás de outros países que já estão mais avançados, incluindo muitos da Europa“, afirma Nuno Roso.

O responsável de soluções digitais da Ericsson Portugal lamenta que, ao contrário do que aconteceu com o 3G e 4G, o país não esteja “na linha da frente” e realça que a adaptação dos empresários não acontece “da noite para o dia“. “Quanto mais tarde começarmos, mais tarde colhemos os benefícios“, diz. Além da velocidade de transferência de dados, da baixa latência e da fiabilidade, o 5G tem capacidade de impulsionar a transformação digital em setores mais tradicionais, como a banca, contribuindo para os objetivos nacionais e europeus neste campo.

Uma das coisas que penso que continua a ser possível é aprofundar o conceito de banca móvel“, revela Pedro Tavares, Partner da Deloitte. O consultor lembra a experiência da Caixa Geral de Depósitos, que colocou serviços bancários mínimos sobre rodas em locais remotos e onde as agências do banco não tinham presença. “Não resultou muito bem porque as comunicações não são suficientes, mas o 5G vai permitir fazê-lo sem problemas“, acredita. Mas as possibilidades da nova geração móvel vão mais além. Nuno Roso dá como exemplo a aceleração de “atividades complexas como pagamentos digitais, transferências, investimento e trading“, que podem ser melhoradas com maior capacidade da rede.

Por outro lado, num mundo cada vez mais digital e, consequentemente, mais exposto às ameaças, a cibersegurança será uma das áreas que a banca tradicional e as fintech poderão reforçar com a nova tecnologia das telecomunicações. “O 5G é inerentemente a rede móvel mais segura de sempre, assegurando por exemplo encriptação e privacidade end-to-end“, aponta ainda o responsável da Ericsson.

Maior inclusão digital

Garantir acesso universal à internet a todos os europeus até ao final da década é uma das metas definidas pela Comissão Europeia para a digitalização do velho continente, objetivo para o qual o 5G pode contribuir. Se em locais remotos e rurais a cobertura de rede pode ser difícil, Pedro Tavares lembra que os operadores de telecomunicações têm na nova geração móvel uma oportunidade para expandir o alcance dos seus serviços e aumentar a quota de mercado. “Permite que em zonas rurais, de preferência planícies, com uma única antena seja possível cobrir dezenas de quilómetros. Isto permite às operadoras conquistar muito mais clientes“, afirma. Além disso, será possível fazê-lo com custos reduzidos face à instalação de fibra, por exemplo.

Não é, porém, apenas na expansão do mercado de consumo que estão concentrados os potenciais ganhos para o setor, que poderá atuar como catalisador para a transformação e inovação transversais a toda a economia com a disponibilização de infraestruturas às empresas. A baixa latência da nova rede permite tempos de resposta quase imediatos, tornando-a parceira ideal para o crescimento das soluções associadas à indústria e à mobilidade.

Cidades mais inteligentes e sustentáveis

O tema das smart cities não é apenas uma tendência passageira, mas antes uma forma de atingir objetivos ligados à digitalização e à sustentabilidade, porventura o maior desafio que a Humanidade já enfrentou. Aqui, o 5G terá um papel crucial. “As smart cities trazem consigo a Internet das Coisas (IoT), que nunca descolou porque as redes que ligam os sensores nunca foram padronizadas“, explica Pedro Tavares. Para o especialista, com a disponibilização efetiva da rede será possível acelerar o desenvolvimento do conceito e resolver muitos dos problemas das metrópoles contemporâneas – excesso de tráfego, poluição e dificuldades na mobilidade. Desde logo pelo impacto que o 5G terá no avanço tecnológico dos veículos autónomos elétricos, reduzindo em simultâneo a pegada de carbono e a sinistralidade através da conectividade entre pessoas, automóveis e infraestrutura. Para os transportes de mercadoria, por exemplo, a rede permitirá aumentar a produtividade e a eficiência das operações.

À semelhança das cidades, também a atividade industrial partilhará de muitos destes benefícios – como reforço da robótica, automatização, inteligência artificial ou realidade aumentada – e não apenas em contexto de chão de fábrica. Portos marítimos – como o de Aveiro, que está a implementar um projeto-piloto neste âmbito – têm muito a ganhar com a nova geração móvel, nomeadamente com a operação remota de contentores ou o check-in automático de viaturas no recinto. Desta forma, é possível aumentar a segurança dos trabalhadores, reduzir custos e tornar todo o processo mais eficiente. “Em boa parte dos portos norte-americanos o transporte de contentores já é automático“, sublinha Pedro Tavares.

As vantagens competitivas, com maior eficiência e rentabilidade, estão à vista e são, em muitos setores, bem conhecidas das empresas. Falta, contudo, dar o passo final para a conclusão do leilão promovido pela Anacom para que o 5G se torne uma ferramenta acessível aos negócios e ao serviço da economia, em particular num momento que se quer de recuperação pós-covid. “Para um Portugal mais competitivo, digital e sustentável é importante terminar este passo o mais cedo possível“, remata Nuno Roso.

Março 2021

Dinheiro Vivo

Foto: cottonbro de Pexels

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