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Espaço LusofoniaCidade da Praia acolheu X Encontro de Escritores de Língua Portuguesa

Cidade da Praia acolheu X Encontro de Escritores de Língua Portuguesa

A “Insularidade e Universalidade na Literatura” foi o tema que assinalou a X edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que decorreu na cidade da Praia, em Cabo Verde, de 6 a 8 de outubro, e que reuniu escritores e poetas de diversos países de língua portuguesa.

O Encontro de Escritores de Língua Portuguesa (EELP) é uma iniciativa da UCCLA e da Câmara Municipal da Praia (CMP), em parceria com a Empresa de Mobilidade e Estacionamento da Praia (EMEP), a Academia Cabo-verdiana de Letras (ACL) e a Sociedade Cabo-verdiana de Autores (SOCA).

A visita a algumas escolas, com os escritores, abriu as hostes do vasto programa da décima edição do EELP. Assim, no dia 6 de outubro, foram visitadas as seguintes escolas:

Escola Primária Capelinha Fazenda, com os escritores Ricardo Almeida (Portugal), Sheila Khan (Moçambique) e Tony Tcheka (Guiné-Bissau).

Um sino e uma vareta, com um toque pendular, anunciavam não a chegada de novos visitantes, mas o toque de saída das aulas para o recreio. Uma tradição que um senhor, de 58 anos, orgulhosamente exibia e desfilava ao longo de toda a escola. A comitiva foi recebida pela diretora que, rapidamente, se prontificou a reunir os professores, e respetivos alunos, numa roda improvisada para ouvir o que os escritores tinham para lhes contar. O que gostavam de ser quando fossem grandes e se gostavam de ler foram algumas das perguntas colocadas aos alunos. O ambiente foi tão acolhedor que os alunos, entusiasmados com as visitas, já se atropelavam em palavras e queriam-se fazer ouvir. No final desta partilha de sonhos e de desejos, a comitiva foi presenteada com uma música e dança que poderá ser visualizada aqui. Os escritores não saíram da escola sem antes visitarem a Biblioteca. Na ocasião, os escritores prometeram contribuir para o crescimento do espaço de leitura, com o envio de alguns livros.

De seguida, o diretor da Cultura e Economia Criativa da Câmara Municipal da Praia, Adilson Spínola, promoveu uma visita ao Centro de Recursos de Promoção do Artesanato Criativo e do Design de Produto – projeto cofinanciado pela União Europeia, promovido pelo Atelier Mar e com os corequerentes Câmara Municipal de São Vicente, Câmara Municipal da Praia e UCCLA. O mestre artesão e formador, Gustavo Duarte, com 45 anos dedicados à arte do artesanato, deu-nos a conhecer os seus trabalhos. O processo criativo, e original, é construído com o recurso a diversos materiais reutilizáveis, como pacotes de leite, tampas, tambores de máquinas, vassouras velhas, entre outros. “Quando se fala de artesanato, obrigatoriamente temos que utilizar a matéria-prima nacional. Mas dentro do artesanato, nós os artesãos temos a capacidade de trabalhar a proteção do meio ambiente. Ou seja, procuro pegar em tudo o que eu vejo, que pode danificar o nosso ambiente, e transformar em obra” enaltece, chamando-lhe de arte decorativa. A identificação das suas obras, com um selo personalizado, veio facilitar a proteção e identificação do artesão além-fronteiras. “O material orgânico e a valorização do que nós temos, pegar nessas coisas que os nossos antepassados souberam muito bem aproveitar… nós agora neste mundo contemporâneo porque não valorizar, cada vez mais, essas matérias-primas” confidenciou, trazendo, assim, muito da memória coletiva e identitária para a sua arte. O legado do seu trabalho às novas gerações e o reconhecimento do trabalho feito são algumas das preocupações do artesão Gustavo Duarte. A “melhor riqueza que Cabo Verde tem é a nossa vivência, é a nossa cultura. Por isso a minha página é “Nôs Vivência”, a nossa vivência. Isto diz tudo, a nossa tradição, o nosso viver, o nosso costume, o nosso hábito. É isso que nos torna diferentes!”.

Escola Secundária Polivalente Cesaltina Ramos, com os escritores José Luiz Tavares (Cabo Verde) e Luís Cardoso (Timor-Leste).

Foi com muita animação que os escritores, acompanhados pelo vereador da Cultura da Câmara Municipal da Praia, Jorge Garcia, foram recebidos pela diretora da escola. A partilha de vivências e experiências marcou a visita. Mas uma coisa se destacou…. aquela tinha sido a escola onde José Luiz Tavares tinha estudado. Foram momentos para recordar e contar aos mais novos o seu tempo de estudante, as suas aventuras, os seus amores e desamores e, em conjunto, poderem musicar “M`cria ser poeta” que poderá ser visualizada aqui.

Escola Secundária Regina Silva, com os escritores Inês Barata (Portugal) e Valter Hugo Mãe (Portugal).

Com algumas obras, de melhoramento, a decorrerem no local, o diretor da escola recebeu os escritores e encaminhou-os para uma sala, onde os alunos aguardavam com grande ansiedade. A visita consubstanciou-se na partilha de experiências pelos alunos, com confissões de gostos literários, e muita vontade de aprender.

A abertura oficial do encontro teve lugar no dia 6 de outubro, na Universidade Jean Piaget, e contou com as intervenções do Ministro do Estado, Família, Inclusão e Desenvolvimento Social de Cabo Verde, Fernando Elísio Freire, do presidente da CMP, Francisco Carvalho, do Secretário-geral da UCCLA, Vitor Ramalho, do presidente da ACL, Daniel Medina, e do representante da EMEP, Ailton Varela.

Marcaram presença a presidente da Assembleia Municipal da cidade da Praia, Clara Marques, e os Embaixadores de Angola, Espanha, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

O autarca da Praia, Francisco Carvalho, reforçando a “grande satisfação” em acolher o X Encontro de Escritores de Língua Portuguesa abordou o tema escolhido – “Insularidade e Universalidade na Literatura”, e se “há uma literatura especificamente insular, sem nenhuma ressonância universal, ou se há literatura insular com expressão reconhecidamente universal ou, se ainda, se as produções literárias dos escritores das ilhas não têm expressão da insularidade seguindo os moldes e cânones das literaturas europeias, mais particularmente portuguesa ou brasileira”. “Os intelectuais e os artistas cabo-verdianos foram, e continuam sendo, pilares essenciais na construção da nossa identidade e no estado de nação” acrescentou, destacando os dois Prémios Camões atribuídos a Arménio Vieira e Germano Almeida.

Ailton Varela, da EMEP, reforçou que é o quinto ano em que a empresa dá um apoio financeiro à organização, reforçando, desta forma, o compromisso na área da cultura.

Uma “longa história de conhecimentos” entre a ACL e a UCCLA foi destacada por Daniel Medina, para quem estes encontros são “um momento de parceria, unir esforços e de praticar sinergias”. A “escrita une pessoas, a escrita une ideias, ou então separa-as, na escrita constroem-se histórias” e “constroem-se identidades”. Os escritores representam missionários dessa identidade e “unir escritores através desta organização (UCCLA) é um bem incomensurável, esta é uma verdadeira partilha de experiências” salientou. “Estes encontros são, por demais, salutares, são dos poucos em que se permite um conhecimento do outro no seu habitat”.

Vitor Ramalho agradeceu todo o apoio prestado pela Câmara Municipal da Praia, e a sua hospitalidade, e da EMEP para a concretização de mais uma edição do encontro de escritores. Para o responsável “somos povos com conceções universalistas” e a “cultura é um marco dos novos povos, neste entrecruzar secular que nós forjamos”, destacando os méritos alcançados por alguns dos escritores e relembrando a obra “Chiquinho” de Baltazar Lopes.

Agradecendo à Câmara da Praia e à UCCLA, o Ministro Fernando Elísio Freire referiu que este encontro é a “cara de Cabo Verde. A insularidade representa aquilo que Cabo Verde tem do melhor e mais belo, porque a insularidade representa, por vezes, isolamento, dor, por vezes desesperança, agruras, mas é a insularidade que permite a este país andar atrás da cura, do amor, da ligação, da universalidade. Todo aquele que é insular sonha em ser universal, para que a sua insularidade possa permitir-lhe ser cada vez mais universal”. Para Fernando Elísio Freire, a “CPLP só tem sentido se for um espaço de povos e de pessoas, e onde há pessoas há costumes, onde há costumes há cultura, e onde há cultura existem as suas expressões máximas, os escritores, os músicos e toda a nossa população”, destacando os acordos de Mobilidade na CPLP que se tem vindo a discutir.

Dado o pontapé de saída para esta décima edição do EELP, procedeu-se à apresentação do Prémio de Revelação Literária UCCLA-CM Lisboa – Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa pelo Secretário-geral da UCCLA, Vitor Ramalho, pelo responsável da Cultura da UCCLA, Rui Lourido, pelo escritor Germano Almeida (em representação do júri do prémio) e pelo escritor Ricardo de Almeida (vencedor da Menção Honrosa do prémio).

Para Germano Almeida, o prémio “tem criado um grande interesse nas pessoas”, salientando a grande adesão que tem havido e a possibilidade do “aparecimento de novos escritores”.

O vencedor da 1.ª Menção Honrosa do prémio, Ricardo de Almeida, refere que o seu romance “inspira-se muito na novelística renascentista e conta a história de um herói que, perante circunstâncias especiais, um nevão em Lisboa, enceta uma busca”.

De seguida, Vitor Ramalho anunciou que se iria assistir à saudação de três personalidades ao EELP, pelo escritor Mia Couto, pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, José Jorge Letria, e pelo diretor do Jornal de Letras, José Carlos Vasconcelos.

UCCLA

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